Chega o eletricista, para trocar os fios. Vem de sandálias Havaianas, calça social, uma camiseta horrenda e com as ferramentas embrulhadas em jornal. Aparece o bombeiro(*), com camiseta igualmente espantada. Mas é obliterada pelo seu bermudão multicolorido. Faz alguns anos, chegando ao aeroporto de Bogotá, ouço o ruído ensurdecedor de uma esmerilhadora cortando um basculante. O seu operador é um clássico índio andino, mas veste terno, camisa branca e gravata, todos cobertos de limalha. Saltemos para um laboratório de psicologia experimental. Voluntários são convocados para um teste de avaliação. Aleatoriamente, metade deles recebe um guarda-pó branco, com a explicação de que o laboratório estava em obras. Surpresa! Os do guarda-pó obtêm melhores resultados. No segundo experimento, com o mesmo teste, todos recebem aventais brancos. Mas a uns se explica que são de médicos. Aos outros, que são de pintores. Nova surpresa. Quem ganhou o avental dito de médico fez mais pontos no teste. De fato, diversas pesquisas, como a citada acima, estão mostrando que as pessoas têm seu comportamento afetado pelo fato de portarem uniformes, deste ou daquele tipo. Lideranças nazistas e fascistas usaram a mágica do uniforme com objetivos funestos. Em contraste, quando visitei um quartel na Alemanha, notei que os uniformes eram deselegantes e mal ajustados. Claramente uma profilaxia contra o renascimento do nazismo. Segundo pesquisas, o uniforme condiciona o comportamento – para o bem e para o mal. Com ele, sentimo-nos diferentes e, nos casos benignos, mais comprometidos com o trabalho. Aquela roupa nos faz sentir participantes de um segmento muito especial da sociedade – qualquer que seja. (*) No contexto, bombeiro é designação de encanador.
Os termos obliterada (1o parágrafo) e funestos (4o parágrafo) significam, no contexto, respectivamente,